segunda-feira, 23 de setembro de 2013

A Revolta dos Cipaios



Através da Companhia Britânica das Índias Orientais, a Inglaterra conquistou progressivamente a Índia e entre os séculos XVIII e XIX e fez dela o seu maior domínio colonial. Os ingleses lutaram contra a presença dos franceses e se impuseram perante os príncipes indianos, chegando a ter poder suficiente para cobrar impostos, praticar o comércio e vigiar a população local durante o século XIX. Os ingleses montaram uma estrutura que tornava seus produtos industrializados mais baratos que os produtos manufaturados produzidos pelos nativos, fazendo com que muitos dos indianos perdessem os empregos e depois, com a supervalorização das terras que eram cultivadas para produzir matéria de exportação, suas propriedades agrícolas.

Para garantir que as imposições inglesas fossem respeitadas, a Companhia Britânica das Índias Orientais recrutava soldados indianos – conhecidos como cipaios – para servir sob as ordens de generais ingleses. Após um tempo, a quantidade de cipaios se tornou muito maior que o número de soldados ingleses, atingindo proporções de cinco indianos para cada britânico.

Os cipaios recebiam baixos salários, mas tinham que pagar o transporte dos seus materiais quando eram enviados para operações em pontos distantes. Além disso, o recrutamento de soldados membros de diversas castas incomodava os combatentes xátrias e brâmanes, que pertenciam às duas castas mais elevadas da sociedade indiana.

As elites do país também estavam revoltadas com a Inglaterra devido à exploração que país sofria: as matérias-primas de diversos produtos industrializados eram retiradas da Índia e voltavam pra ela em forma de produtos industrializados por preços muito mais altos.

O estopim da revolta dos cipaios veio com os cartuchos de um novo fuzil do exército inglês. Os soldados do exército inglês eram treinados para rasgar os cartuchos com os dentes, contudo havia rumores de que a impermeabilização dos cartuchos do novo fuzil Lee-Enfield era feita com banha de porco ou sebo bovino, o que era uma afronta aos cipaios, uma vez que o contato com bois é proibido aos hindus, que os consideram animais sagrados e, com porcos, aos muçulmanos, que os têm como impuros. Em 1857, os cipaios se negaram a utilizar os cartuchos e, mesmo após os britânicos passarem a impermeabilizar a munição com cera de abelha e óleo vegetal os rumores continuaram.

Ainda em 1857, um homem chamado Mangal Pandey liderou uma revolta após se rebelar contra os oficiais britânicos do 34º Regimento de Infantaria Nativa – do qual ele fazia parte – alegando que eles o estavam fazendo ir de encontro à sua religião. Para conter o levantamento, o oficial comandante do Regimento ordenou que Pandey fosse preso pelos seus companheiros ameaçando atirar no primeiro que se negasse a fazê-lo. Condenado à forca por alta traição, Pandey tornou-se um mártir daquela que é considerada pelos indianos a primeira guerra da independência da Índia.

Após a morte de Pandey, em abril de 1857, o 34º Regimento de Infantaria Nativa foi dissolvido, gerando mais revolta entre os indianos. Em 10 de maio do mesmo ano, o 11º Regimento de Cavalaria Nativa organizou um motim e exterminou todos os europeus e cristãos indianos da cidade de Meerut, marchando em seguida para Délhi onde, no dia seguinte, outros indianos se juntaram à manifestação e passaram a exigir que Bahadur Shah recuperasse o trono. Shah se envolveu com a manifestação e passou a liderar o levante. Mais uma vez, todos os europeus e cristãos foram exterminados pelos cipaios.

Dois meses depois, chegam à Índia tropas inglesas com o intuito de acabar com a revolta. Após semanas de combate, os britânicos tomaram Délhi, prenderam Bahadur Shah e executaram seus filhos.

 


Caso semelhante aconteceu em Kanpur, onde cipaios atacaram soldados britânicos em despeito ao salvo-conduto que tinham prometido aos ingleses. Kanpur foi retomada pelos britânicos e diversos cipaios foram executados, mas Nana Sahib, líder tático do motim, conseguiu fugir. 


Embora tenham sido contidas em menos de um ano, essas rebeliões demonstraram a insatisfação dos indianos contra os ingleses e culminaram com a suspensão das ações da Companhia Britânica das Índias Orientais no ano de 1858. A Índia passou a ser governada pela Coroa Britânica e esta conseguiu integrar os governantes da região, decretar a tolerância religiosa e passou a admitir indianos no poder público. 

No ano de 1877, a rainha Vitoria recebeu o título de Imperatriz da Índia, caracterizando uma forte ação imperialista e gerando revolta nas elites intelectuais que iniciaram movimentos pela independência política indiana, alcançada em 1947.

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