Através
da Companhia Britânica das Índias Orientais, a Inglaterra conquistou
progressivamente a Índia e entre os séculos XVIII e XIX e fez dela o seu maior
domínio colonial. Os ingleses lutaram contra a presença dos franceses e se
impuseram perante os príncipes indianos, chegando a ter poder suficiente para
cobrar impostos, praticar o comércio e vigiar a população local durante o
século XIX. Os ingleses montaram uma estrutura que tornava seus produtos
industrializados mais baratos que os produtos manufaturados produzidos pelos nativos,
fazendo com que muitos dos indianos perdessem os empregos e depois, com a
supervalorização das terras que eram cultivadas para produzir matéria de
exportação, suas propriedades agrícolas.
Para
garantir que as imposições inglesas fossem respeitadas, a Companhia Britânica
das Índias Orientais recrutava soldados indianos – conhecidos como cipaios – para
servir sob as ordens de generais ingleses. Após um tempo, a quantidade de
cipaios se tornou muito maior que o número de soldados ingleses, atingindo
proporções de cinco indianos para cada britânico.
Os
cipaios recebiam baixos salários, mas tinham que pagar o transporte dos seus
materiais quando eram enviados para operações em pontos distantes. Além disso,
o recrutamento de soldados membros de diversas castas incomodava os combatentes
xátrias e brâmanes, que pertenciam às duas castas mais elevadas da sociedade
indiana.
As
elites do país também estavam revoltadas com a Inglaterra devido à exploração
que país sofria: as matérias-primas de diversos produtos industrializados eram
retiradas da Índia e voltavam pra ela em forma de produtos industrializados por
preços muito mais altos.
O
estopim da revolta dos cipaios veio com os cartuchos de um novo fuzil do
exército inglês. Os soldados do exército inglês eram treinados para rasgar os
cartuchos com os dentes, contudo havia rumores de que a impermeabilização dos
cartuchos do novo fuzil Lee-Enfield era feita com banha de porco ou sebo
bovino, o que era uma afronta aos cipaios, uma vez que o contato com bois é
proibido aos hindus, que os consideram animais sagrados e, com porcos, aos
muçulmanos, que os têm como impuros. Em 1857, os cipaios se negaram a utilizar
os cartuchos e, mesmo após os britânicos passarem a impermeabilizar a munição
com cera de abelha e óleo vegetal os rumores continuaram.
Ainda
em 1857, um homem chamado Mangal Pandey liderou uma revolta após se rebelar
contra os oficiais britânicos do 34º Regimento de Infantaria Nativa – do qual
ele fazia parte – alegando que eles o estavam fazendo ir de encontro à sua religião.
Para conter o levantamento, o oficial comandante do Regimento ordenou que
Pandey fosse preso pelos seus companheiros ameaçando atirar no primeiro que se
negasse a fazê-lo. Condenado à forca por alta traição, Pandey tornou-se um
mártir daquela que é considerada pelos indianos a primeira guerra da
independência da Índia.
Após
a morte de Pandey, em abril de 1857, o 34º Regimento de Infantaria Nativa foi
dissolvido, gerando mais revolta entre os indianos. Em 10 de maio do mesmo ano,
o 11º Regimento de Cavalaria Nativa organizou um motim e exterminou todos os
europeus e cristãos indianos da cidade de Meerut, marchando em seguida para
Délhi onde, no dia seguinte, outros indianos se juntaram à manifestação e
passaram a exigir que Bahadur Shah recuperasse o trono. Shah se envolveu com a
manifestação e passou a liderar o levante. Mais uma vez, todos os europeus e
cristãos foram exterminados pelos cipaios.
Dois meses depois, chegam à Índia tropas inglesas com o intuito de acabar com a revolta. Após semanas de combate, os britânicos tomaram Délhi, prenderam Bahadur Shah e executaram seus filhos.
Caso semelhante aconteceu em Kanpur, onde cipaios atacaram soldados britânicos em despeito ao salvo-conduto que tinham prometido aos ingleses. Kanpur foi retomada pelos britânicos e diversos cipaios foram executados, mas Nana Sahib, líder tático do motim, conseguiu fugir.
Embora
tenham sido contidas em menos de um ano, essas rebeliões demonstraram a
insatisfação dos indianos contra os ingleses e culminaram com a suspensão das
ações da Companhia Britânica das Índias Orientais no ano de 1858. A Índia
passou a ser governada pela Coroa Britânica e esta conseguiu integrar os
governantes da região, decretar a tolerância religiosa e passou a admitir
indianos no poder público.
No
ano de 1877, a rainha Vitoria recebeu o título de Imperatriz da Índia,
caracterizando uma forte ação imperialista e gerando revolta nas elites
intelectuais que iniciaram movimentos pela independência política indiana,
alcançada em 1947.
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